Cedo e Sentado Num Apartamento

3 de fevereiro de 2012
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Este texto foi publicado originalmente aqui
Por Gabriel Ruiz


Na pista, a moda é vistosa. Vestidinhos de bolinha, de coração, curtos, camisas flaneladas exibem a pele sem sol paulistana; tênis colors e uma diversidade de óculos (destaque para os modelitos “Chiquinha”) e cabelos psicodélicos que acompanham a juventude (quase flower power) style do Cedo e Sentado Augusta.

O show começa com um dos hits de 2011: Mas tuuuu-do beeem… “As listas não reverberaram tanto pras pessoas conhecerem o disco ou aumentar a quantidade de shows, mas os blogs e as resenhas, esses sim foram fundamentais para que isso ocorresse” – comenta Cícero, logo após a passagem de som, horas antes.

E segue colocando letras e levadas melancólicas do violão na boca de quem está a sua frente, fazendo pular os dedos nos sapatos, fechando os olhos em clima de emoção, de muita gente que já viveu aquelas letras todas. Aposto que elas ficariam ali “até o dia raiar e a gente se inventar de novo”.

Sentado durante toda a apresentação, agora está com as pernas cruzadas em cima do banco, a banda cresce, concisa, leve, esteticamente em harmonia com “Vagalumes Cegos”. É como se a chuva viesse junto, tempestade pesada, outro grande momento do show e do entrosamento dos músicos. Embaçou o vidro. Suor. Raios, trovões, apartamento úmido, como se de fato num apartamento. Respiramos com “Cecília e os balões”, mas o clima persiste deliciosamente nublado.

Foto por Rafael Vilela


“Esse tanto de gente aqui, estou honrado” – diz tímido e emenda: “foram vocês que construíram isso tudo, continuem lendo os blogs, republicando, replicando no facebook, no twitter, eu não tenho gravadora, nem produção, foi tudo graças a vocês”.

O all star bate com força no chão, os dentes pra todo mundo ver, cantando com a alma e as pálpebras apertadas, é sincero, um dos diferenciais de sua música. “You Don’t Know me”, clássico do Caetano é versada em cima de “Ensaio sobre Ela”, outra faixa profunda, a voz ecoa, uma nuvem da banda envolve o Studio SP, ou é a nuvem de pessoas que o abraça debaixo do palco?

Quase toda apresentação notável termina em clima festivo, com uma performance pré-combinada. No meio da música, a banda chega junto de Cícero, bem atrás dele pra coreografar com palmas e vocalizações “Laiá Laiá”. Ele troca o instrumento de lado e, ao invés de cordas, o batuque final, num corte seco que decreta o fim da “chuva”.

O disco ficou pronto em junho de 2011, gravado entre 2010 e 2011, composições e vários instrumentos (baixo, violão, piano, guitarras) e linhas pensados por Cícero. Terça-feira chuvosa, fria e o Studio SP lotado: essa é a nova música brasileira.

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