Sábado, 1 de outubro, Noite Fora do Eixo #20
Samanah, El Principio
Fotos por Pamela Morrison
Texto por Jéssica Mobílio
Pés no Shiva. E o jogo lúdico daquele lugar me agrada, a substancialidade daquelas paredes, os tijolos rústicos e a iluminação que se borra em vermelho, do palco se vê, se ouve e se absorve calor. Essa tal cor tem relevância, soa estranho, mas é só uma impressão. Aquele ambiente das sensações mais efêmeras e dos sons mais enérgicos (ou não) estava cheio e o bar lotado. As mesas estavam aos pares, pessoas bebem, se apoiam deixam objetos, e se levantam, todas inquietas. Chega meia noite.
Pessoas de tribos diversas com muita ou pouca roupa, dos pés atravessados. O puro calor bauruense e as chuvas de 15 minutos, bem peculiar. O contraste do reggae vivo e as notas melódicas do rock amoroso deveriam ter excitado o sábado, e foi? Entra em cena a Samanah, já sabia que os bauruenses iriam agradar. O público da banda se dividiu entre as mesas, absorveu o som, uns amigos ao pé do palco e outros no bar, mandavam um aplauso.
A sonoridade era limpa, se o propósito era acertar as batidas, funcionou. O reggae leve, da sintonia fina parecia roçar os ouvidos, mas se dissipava nos rostos mais distantes e evasivos. O grupo escolhe Bob Marley “i know a place” e chama os corpos de quem se perdia no tempo. E vêm aí, uns passos a ‘La Bob’, dos braços jogados. Era a deixa para continuar a tocar composições de autoria própria, como ‘Mariana Berenice’. E logo depois, reconheço a entrada de ‘time’ do Pink Floyd, envolvente.
E a Samanah fazia poesia, a calmaria do “barzinho e violão”, sintetizava a atmosfera. Sem nenhum reflexo mais agressivo, só o reggae mais o groove, identidade musical até intimista com cheiro de tinta fresca. Os meninos iniciavam a noite, mas era só o prelúdio. Sabem aquelas viradas de última hora, e foi mais tarde. Desce Samanah, a discotecagem alimenta o Shiva, as conversas cotidianas circulam mais uma vez.
Soco chileno
Fotos por Eduardo Kenji
Texto por Aline Ramos
Costeletas andando pelo Shiva detectadas! Esse só poderia ser o chileno que iria se apresentar em mais uma Noite Fora do Eixo. Carinhosamente, eu e uma amiga o apelidamos de vampiro. Onde estavam os dentes caninos do Angelo Pierattini? Procuramos quando ele sorriu. MENTIRA! Ficou no Chile.
Nós bem achávamos que continuaríamos a noite no ritmo “um barzinho e um violão”. Com músicas “água com açúcar” como a saga “Crepúsculo”. Ufa! Ainda bem que o Angelo fez questão de mostrar que estávamos todos enganados. Não haviam dentes afiados e muito menos vampiros brilhando a luz do sol. O que vimos e ouvimos foi o bom rock’n roll.
O álbum “Vampiros” (2010) inspirado no terror sueco “Deixa-me entrar” (2008) – que teve sua versão hollywoodiana gravada em 2010 – é o segundo trabalho solo do cantor. Com a aceitação chilena, a divulgação da turnê no Brasil enfatizou ser esse o seu trabalho de destaque. O MySpace nos apresentou “Vampiros”, já o Angelo o seu mais recente trabalho, “Pierattini III” (2011).
Angelo possui uma carreira musical de 15 anos. Antes, era só o guitarrista da banda Weichafe. Hoje é um artista solo que grava um disco atrás do outro – um em 2009, 2010 e 2011- e totalmente diferentes entre si. Sob o maior selo de música independente do Chile, Oveja Negra, desponta como um dos destaques na música nacional chilena.
Convenhamos que isso não seja pouca coisa no Chile. Um país repleto de artistas que produzem trabalhos com qualidade e que não conquistam somente o espaço local, mas que tem lançado seus álbuns em países na Europa e Estados Unidos. No começo do ano, o jornal espanhol El País, publicou ampla reportagem nomeando o Chile como “o novo paraíso do pop”.
Porém, eu acreditava que o que eu via no palco era “Vampiros” com uma pegada mais forte. Achava que Angelo estava plainando sobre nós quando balançava sua guitarra freneticamente. E que tudo ali, era um jogo de sedução. Não era, mas quem estava no Shiva não só foi seduzido, como arrastado para perto do palco.
Os olhares se entrecruzavam e diziam “você está vendo o mesmo que eu?”. Enquanto as luminárias sob o bar balançavam, símbolo de aprovação da galera da casa, éramos levados a uma viagem sentimental e visceral.
Vibramos quando uma bandeira do Brasil surgiu nas mãos de Angelo misteriosamente. E este logo fez o favor de usá-la em sua guitarra. Vibramos com cada nota e com cada movimento do trio. Enquanto alguns ficavam anestesiados com o charme latino de Angelo, há quem tenha fritado na bateria. “PORRA BATERISTA, É ISSO AÍ, MANDA VER”.
Já estávamos extasiados com aquela expressão de “caralho” estampada em nossa cara quando Angelo fez uma garrafa de Original, os seus dedos. Não me pergunte como, mas ele estava tocando a guitarra com uma garrafa de cerveja. Um, dois, TRÊS celulares em frente ao palco. É, já sentíamos falta antes mesmo de acabar.
“Uno más, uno más, uno más”, foi o nosso pedido de bis. Eles levaram a sério. O palco tremia com a bateria. A guitarra e o baixo pareciam conversar entre si. Espera aí, o que ele está fazendo? ELE ESTÁ ESFOLANDO O PEDESTAL NA GUITARRA!!! NOSSA, É ISSO MESMO, ELE ESTÁ TOCANDO A GUITARRA COM O PEDESTAL DO MICROFONE!!!
Sem mais.
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