Uma “Amostra” do interior

4 de fevereiro de 2013
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Texto por Higor Boconcelo e Artur Faleiros
Fotos por Artur Faleiros 

“Bauru tem quase 400 mil habitantes e somente de um ano pra cá a cidade tem começado a aprender à gostar de teatro”, conta Thiago Neves, produtor e organizador da XII Mostra de Teatro Paulo Neves, que ocorreu entre os dias 22 de janeiro e 03 de fevereiro. O evento leva o nome do pai do produtor, profissional do teatro respeitado na cidade, dono de uma carreira de mais de 45 anos e com um curso livre de teatro há mais de 20. Foram 15 espetáculos exibidos em 21 sessões, com mais de cem atores envolvidos e um público estimado em 4 mil pessoas. 

Certamente há uma explicação para o que Thiago aponta estar acontecendo na cidade. Produtores e profissionais do ramo teatral trouxeram vários festivais periódicos para Bauru durante o ano passado. Apresentações em eventos como FACE (Festival de Artes Cênicas), FETUSC (Festival de Teatro da USC), FETUSP (Festival de Teatro da USP), FESTINBAU (Festival de Teatro Independente de Bauru) são exemplos do que os amantes bauruenses de teatro puderam prestigiar em 2012.

Os eventos puderam abranger uma variedade de diversos gêneros teatrais com teatro de rua e performático, que destoam do estilo italiano, clássico com palco e platéia que os públicos estão acostumados. 

E se ocorre o aumento do público, também o faz na formação dos profissionais da cidade. Grande maioria dos artistas que atuaram na Mostra Paulo Neves foram e são alunos do curso; dentre as quinze peças apresentadas no festival, cinco foram autorais: duas dos núcleos curitibanos Núcleo Móvel de Investigação Cênica e e Uma (Certa) Cia. Cênica, e três de autoria dos alunos de Paulo, “geniais, por sinal”, segundo o senhor de 80 anos que acompanha de perto o teatro na cidade há anos. Paulo tem sua formação voltado no teatro político e claro que não é à toa. Teatro é coisa séria que promove, potencializa e reverbera as discussões cotidianas.

O Teatro têm por excelência a atuação de grupos. O que vêm acontecendo em Bauru é sintomático. Diversos grupos sentem a necessidade de ampliar seus públicos e possibilidades. Nos últimos anos empreendedores locais e artistas botaram a mão na massa e se colocaram a elaborar um calendário cheio de atividades com festivais, mostras, oficinas e muito mais. E não para por aí, além dos festivais específicos das linguagens é cada vez mais comum se deparar com intervenções e apresentações de teatro em sarais, ruas e festivais de outras linguagens que abarcam a integração das artes!

O valor desse fortalecimento é maior do que as bilheterias podem expressar. O número de festivais na cidade, o incentivo dos grupos, coletivos, cursos e a consciência da importância da relação com o SESC e Poder Público deixa cada vez mais evidente a costura de uma rede local que adminstra a formação de público, artistas, produtores e gestores culturais. O melhor de tudo é que a partir dessas iniciativas (como o Curso Livre de Teatro, a Mostra e os Festivais) o teatro bauruense conquista cada vez mais espaço, legitimidade e força para crescer. É a partir das iniciativas autônomas (e de grupos/coletivos) que garantimos nossos espaços, nossa voz representada e a nossa vida sendo contada por novos jovens. Personagens que vivem cada vez mais intensamente e têm a missão de traduzir o mundo a cada dia em narrativas próprias e autorais com as verdades que vêm do âmago de cada um e de cada cidade viva que pulsa pelo interior do país. Viva o teatro, viva a liberdade e a possibilidade de fazer!

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