Festando e puxando a orelha

13 de fevereiro de 2013
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Novo bloco de rua bauruense canta os infortúnios da cidade

Por Higor Boconcelo
Fotos por Julia Gottschalk

Nem a inconstante chuva iria atrapalhar o que estava pra acontecer na manhã do sábado de carnaval em Bauru. A Praça Rui Barbosa, situada em meio ao centro comercial da cidade, aos poucos recebeu os integrantes do bloco de rua “Bauru Sem Tomate é Mixto”, somando barulho e presença à concentração, convidando quem passasse desavisado a avisar-se, avisar a todo mundo.



Estreante na cidade, o bloco fora um ato coletivo, organizado por todos, algo belo de se assistir e participar – com ou sem a camiseta da folia. Cantava, em enorme disposição, o samba composto por Silvio Selva, “Faltou Água, Sobrou Buraco”, cuja letra apontava claramente os problemas da cidade. Sem politicagem, afinal, nem mesmo o que fora cantado impedira o prefeito de Bauru a ser reeleito no ano passado em uma votação histórica: venceu os concorrentes com mais de 80% dos votos. O que estava presente naquela folia era o protesto mesmo em festa, o canto que lembrava aos cidadãos que estes devem, sim, abrir a boca e cantar a quem for que ainda há muito a ser feito.

Em pleno horário de almoço o bloco parte rumo ao Calçadão da Batista, percorrendo sete quadras de puro comércio agitado (o mais antigo da cidade), levando crianças, idosos, cidadãos fantasiados e as musas do carnaval bauruense e da diversidade, cantando marchinhas de carnaval e a própria do bloco. “Bauru, Bauru, Bauru, cidade que me seduz / As vezes falta água, as vezes falta luz”, era o refrão repetido por entre as lojas.

Lojistas, clientes e cidadãos de passagem paravam para observar a festa. Alguns não resistiram ao espírito da festa e juntaram-se a ela. Outros, acanhados, prostravam-se a somente ouvir o que queriam cantar, reconhecendo na letra problemas além da falta de água, como as inundações recorrentes de chuvas que assolam a população frequentemente, grande incidente de buracos nos asfaltos, e a situação ruim do clube de futebol da cidade.

O que os foliões do bloco ressuscitaram no último sábado pode ser comparado à formação de um bom padeiro. No início, este aprende a fazer o pão básico, e depois o vai aprimorando, cria novas receitas, aumenta o volume, a consistência. E o resultado melhora a cada dia. Assim como o padeiro não esquece a essência do seu pão, os foliões não esquecerão a essência deste bloco.

Confira a cobertura fotográfica completa!

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