Dança dos Trompetes

3 de julho de 2011
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Por Laís Semis
Fotos por Diogo Zambello

Dois meses se passaram desde a última Noite Fora do Eixo ao Extremo bauruense. E agora com o Clarence Full Dead no palco...

- Aqui na frente é só bagunça!

O pedido foi atendido assim que os primeiros acordes saíram das caixas de som. Era uma bagunça, uma movimentação intensa, uma dança de moléculas aquecidas incontroláveis formando uma rodinha punk.

A casa estava ensurdecedora. Vi moicanos, franjões e uns penteados mais roots.
No palco, o rock na frente, os trompetes e saxofone ao fundo, alinhados.

O que tava rolando era uma noite de extrema energia. Quando o vocalista soltou um “vamos agitar?”, tive receio das proporções que o agito poderia tomar. Não deu outra.

Boa parte da balada aderiu a rodinha próxima ao palco. Fãs da banda, que por ser da cidade e por estar aí desde 98 fazendo som, trouxeram bastante gente pra casa, gente que tentava fazer mais barulho do que as caixas de som. E o que pareciam sibilos de letras, na verdade eram gritos vindos do estômago por fãs fora de si.

Algumas músicas eram mais rock. Mas outras abusaram de elementos desses que fazem o corpo ganhar vida.

A blusa amarrada na cintura do vocalista dava um ar mais noventista ao ambiente. A rodinha punk em partes de músicas se dissolvia para erguer as mãos em discurso de promessas ou de convencimento e vomitar letras do fundo dos pulmões. Os ápices da agitação ficaram por conta dos trompetes.

Ficou claro que tinha muito fã dedicado do Clarence Full Dead ali. A banda sabia bem. “Ah, isso aqui faz valer a pena sair de casa, sem vocês a gente não seria nada! Valeu vocês, de coração, de coração.”

Loucura.
As luzes do palco se apagaram.



Dejavu
Por João Paloso

Já estive aqui antes. Nessa mesma ciranda de maluco.
Com esses mesmos malucos. Com essa mesma energia.
Flash-back.
Fritei minha cabeça ontem.

Clarence Full Dead me fez viajar no tempo.

Cá estou eu, pedalando minha bike, sentindo a brisa no rosto.
Fones no ouvido. Hardcore no ar. O destino é a Lua.
Meus amigos também tão aqui.
Com a mesma garrafa na mão. Com a mesma vontade de fuder com tudo.
Alguém botou um ska. Chamei uma mina pra dançar.
Alguém soltou um reggae. Fumaça no ar. Um reggae pra relaxar.
Uma pankadaria pra bater a cabeça e lembrar que a vida ainda é extrema.
Tudo vale a pena quando a alma não é pequena.
Fala ae, De Buenas...


Os drags voltaram, nós suamos de novo!


Por Guilherme ‘De Buenas’
(com impressões de Laís Bellini)

Uma vez eu ganhei uma camiseta legal.

Massa, felicidade. Devia ser cara só porque tinha uma logomarquinha anexada.

Comecinho de julho de Dois mil e onze. Eis que os jovens caboclos daquela tal de Lisabi aportavam mais uma vez na sesmaria bauruense. Eu, que tive o nobre prazer de acompanhá-los no show do Grito Rock deste ano, já conhecia a potência sonora dos rapazes.

(o show dos caras no Grito Rock foi muita loucura... no dia. Eu cobria a banda que até então era mais uma ali entre tantas. Fiquei de cara com o show. Tá tudo aqui: Os drags voltavam!)

Fui pro show. Era a pegada do sabadão.
Numa boa, sem caô. Já que eu tinha uma camiseta legal, por que não utilizá-la.
Primeiro show, Clarence Full Dead ... Fera. Entretanto, as impressões ficam por outras mãos.

Intervalo. Ótima hora para trocar uma ideia com uma galera responsa, nego que sabe de onde e para onde ir. O Enxame tem lá também seus grandes vícios, dentre os quais, conglomerar uma galera inteligente que faz com que você não se canse do papo. O grande problema é quando o show tem lá seu início. Eu sabia pra onde ir, a frente me chamava.

Contagiante é coisa pouca.
A banda Lisabi retornava com grande estilo a nossos palcos.
Um integrante a menos, a mesma energia de antes.

(um integrante a menos, o público sentiu falta, o De Buenas gritou perguntando pelo cara... “cadê, ta faltando um!”, e o show mal tinha começado. Os caras mostraram que a energia ta ali ainda, mesmo faltando esse um!)

O som dos caras entrava por um ouvido e insistia em não sair pelo outro. Não vou mentir, meu inglês nunca foi lá o ápice de minhas virtudes, mas naquele momento, ele não fazia falta. Eu SENTIA o show. Letra, melodia e vibração. Tudo reverberando numa boa.

(é, o inglês deles é frenético. Meu inglês não alcançou, mas me diverti e entendi o que podia! Adorava quando eles piravam em mais de um instrumento ao mesmo tempo... guita e teclado com o cabelo, por exemplo! Demais!)


A grande roda abriu.
Não aquela dos festejos juninos, mas o bate-cabeça comum-contemporâneo-da sonzera.
Eu estava com aquela camiseta legal. Imagine que eu iria suar a minha camiseta de patrão naquela situação. Deu a lógica, caí pra dentro. O som começou a fazer mais sentido com toda aquela galera vibrando na mesma frequência e aproveitando da mesma forma. Eu pedi “Share”, música que aprendi no Grito Rock e aglutinei para minha coletânea das melhores músicas das melhores bandas que já passaram por cá. A camiseta, claro, recebeu lá sua dose de suor. Suor, som e sinestesia.



(O ‘De Buenas’ jogou o casaco dele pra mim. Tirou a camisa e rodou pra cima. Eu estava prestando a atenção no show enquanto ele estava se divertindo. Duas visões. Ele foi o responsável por criar muitas das rodas que existiram ali. Chamou o B.O., chamou o Mel, que geralmente são mais quietos nessas situações. Todos que estavam parados foram tomados pela contagiante empolgação do De Buenas, todos partiram pro bate-cabeça. Eu me diverti vendo tudo aquilo de longe. Estava demais.)

Vibração pro ar e som com qualidade.

(Batidas frenéticas, um ska que atordoa!)

Parabéns aos nobres companheiros da Lisabi, não pelo som, mas por todo o transtorno sonoro que vocês causam, causaram e causarão nessa tal de Bauru. Que a turnê que se inicia nesse espaço dos dias que nunca se vão, seja frenética. Com ou sem um integrante, a banda deve seguir sua epopéia jogando para frente ótimas vibrações e fazendo com que o ciclo se complete e muitas camisetas voltem suadas e dirijam-se às máquinas de lavar.

(Todas as roupas de ontem foram pra máquina. Todas as músicas e todas as pessoas também. Uma lambança de som, homens, mulheres e calor. Batemos tudo junto ontem e deu uma pira de Lisabi novamente por Bauru. A gente espera a próxima vinda dos drags pra suar mais e bater mais cabeças).


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