A chuva chegou atrasada e esperou para cair somente depois da primeira banda subir ao palco. Para alguns era um reles concurso de bandas em que a garrafa de cerveja e os flertes valem mais que o som. Para outros (principalmente os fãs das bandas participantes) era o primeiro passo daquela banda que você é amigo chegar mais longe, ser conhecida, famosa. Foi nessa vibração que as Seletivas do Grito Rock Bauru começaram.
Overturn
A discotecagem se prolongou por mais alguns minutos e a apreensão dos fãs já era evidente quando as últimas afinações foram deixadas nos conformes. Enfim, a primeira banda a subir ao palco foi a Overturn. Começou com um chiado, mas depois de uns quinze segundos de preocupação para os fãs, o problema foi resolvido. Barulho pesado combinando com melodias que eram conduzidas por dois vocalistas, uma garota na cantoria um tanto delicada e um cara seguia com gritos quase guturais.
“Teve uma menina na plateia que, do nada, apagou o cigarro e começou a gritar mesmo antes da banda tocar, que louca”, dizia uma espectadora que não desperdiça nicotina.
“Olha a idade dos caras, devem ter quinze anos. Se eu tocasse assim nessa idade, estaria feliz. Ah, e o baterista é um polvo”, um cara animado com o som e nostálgico.
Era um bom começo. O festival estava apenas começando. E no final, algo os esperaria. (...suspense).
Londres
“Som cover, não sabia que podia. Pô, mas é legal”, o autor desse texto disse isso.
A banda Londres abusou dos covers. Foram apenas duas músicas autorais. No entanto, foi a banda que fez mais os pés da galera baterem no chão. Totalmente indies, Londres soltou “clássicos cool” de festas de república: Take me out, Juicebox, Cigarrete Smoke.
A música própria que chamou mais a atenção foi uma que contava a história de um cara que roubou o uísque do pai. É, fiquemos com os covers.
Sociopata
As camisetas flaneladas deram lugar às pretas quando Sociopata se apresentou. Foram uma banda que agradou os não-fãs, aqueles que estavam ali apenas por estar ali. O som mais pesado da noite. O que antes só se via bater pé com um som dançante, agora se viam cabeças cabeludas indo para cima e para baixo.
Conrado Martins, baterista da Banda Rélpis e uma figuraça, escolheu a Sociopata com a banda favorita da noite, mas sem muito aprofundamento [risos].
“Gostei dessa última aí. Tem um som legal”. Após minha insistência na pergunta, ele responde:
“Ah é bem legal, sei lá. Tipo... sabe... é legal.”
É, legal mesmo.
Supersônica
Não eram nem duas e meia da manhã e o Mijão, gestor do Enxame Coletivo, já dizia que o show ia acabar cedo. Foi justamente neste momento que a Supersônica mostrou seu som. Banda mais conhecida da noite e carta marcada nos shows de Bauru, a Supersônica conseguiu o que as outras bandas não conseguiram. São pesados, mas pops. Os riffs eram pesados, mas contagiantes. Foi boa para os ouvidos da grande maioria, mesmo quando ninguém conhecia a música.
“Essa música se chama Isabela e ninguém vai saber se errar por que ninguém conhece”, disse o vocalista do grupo.
Ninguém conhece, mas é boa. Ao final do show, todos sabiam que a supersônica teria seu lugar no Grito Rock.
No fim, passaram para o Festival Grito Rock as bandas Supersônica e Overturn. Alegrias das bandas à parte, a cena que mais destoou no Jack Bar ontem, foi de Marisa de Borges, mãe do vocalista da Overturn, o Gah Góes. No meio do tumulto da saída do bar, uma cara cansada e não acostumada a madrugadas em claro se sobressaia. Os membros da banda já mandavam mensagens de agradecimento no celular quando Marisa, sentada à mesa, os esperava para ir embora e descansar, com um alívio no rosto.
De alguma forma, foi o que vi no rosto dos Enxames ao final de tudo. Cansados e confiantes. E claro, sabendo que hoje teria mais.
Renan Simão
Nenhum comentário:
Postar um comentário