It's Amazing! - Entrevista Nemphis Belle

22 de julho de 2012
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Por Luís Morais e Jessica Mobílio 
Fotos por Eduardo Kenji

Lançar o primeiro disco é sempre um marco na carreira de qualquer banda. Com a Nemphis Belle não seria diferente. O conjunto da pequenina e movimentada Porto Ferreira, que recém lançou o álbum “It's Amazing” é representada nessa entrevista exclusiva pro e-Colab pelo baixista Léo Vituri, que nas horas vagas estuda Rádio e TV na Unesp de Bauru. 

E foi dentro do campus, com direito a um hamburgão da minha parte no começo (eu estava com fome, pô), uma mesa de cantina com 3 e-colabers ao seu redor, que Léo falou da banda, do lançamento do disco, do Coletivo Mogi (no qual é um dos responsáveis), e, lógico, de música e arte. Com direito a cornetada em Legião Urbana e nas bandas midiáticas atuais. 

A quase uma hora de conversa está toda transcrita aqui. E dividida em duas partes: a primeira sobre a própria Nemphis Belle e a segunda sobre o Coletivo Mogi e o Fora do Eixo. E antes de ler, já deixo de cara o site da bandaem que você pode baixar o disco e ouvir um bom rock sessentista

 Parte 1 – It's Amazing! 

e-Colab: Sempre que eu começo uma entrevista, começo com a pergunta mais clichê de todas: por que “Nemphis Belle”? 

Léo: Na verdade é uma pergunta que tem que ser feita melhor pro Zinho (Renan Martins, guitarrista da banda). Ele tinha visto um filme chamado “Memphis Belle”. E falou que queria montar uma banda chamada “Nemphis Belle”. Falei “vamos!”. E aí, em outubro de 2004, primeiro ensaio e tamos até hoje. Vamos fazer 8 anos agora em outubro. 

E como foi a entrada do resto da galera? No caso do [Rodrigo] Francalacci, vocês chegaram no estúdio dele e falaram “vamos ensaiar” e deu liga... como foi? 

Na cidade [Porto Ferreira], todo mundo que era envolvido com música o conhecia. Ele grava desde os 14 anos, no fundo da casa dele, e quando eu e o Zinho começamos a frequentar eventos de música, lá por 2002 nós vimos ele tocando num festival de música própria – ele ainda cantava em português, era bem diferente do que é hoje – e naquela época eu e o Zinho éramos metaleiros. Pouco tempo depois a gente começou a compor também, nós tínhamos uma banda de Thrash Metal – o Zinho tinha 13 anos quando fez a primeira música – então desde 2002 já queríamos compor, e o Francalacci, além de já compor rock, ele também já gravava. 

Quando deixamos de ser metaleiros, pensamos “vamos montar uma banda de rock”. Fomos na casa do Francalacci, o chamamos e ele aceitou. Tínhamos outro baterista, e o Régis acabou entrando depois – e entrou na melhor fase da banda. Começamos a compor músicas melhores, a fazer bastante shows – de covers na época -, e depois entrou o Matheus no teclado e agora saiu – tá para entrar outro tecladista. 

Mas não sei se a banda começou comigo e com o Zinho, ou com o Francalacci gravando na casa dele desde novo. Acho que a banda começou dessa união: eu e o Zinho há muito tempo tocando junto com um cara [Rodrigo Francalacci] que já sabia gravar e compor, que cantava e tocava muito bem. 

Dessa banda de thrash metal, que você ensaiava na garagem da sua vó – Léo corrige: “na garagem da vó do Zinho” - vocês tinham um batera lá por exemplo. Aonde foi parar esse batera e o resto da galera que tocava? 

Esse batera se chamava Marquinho na época. Ele tava em São Paulo fazendo Relações Internacionais na USP, não temos mais tanto contato com ele, mas era um cara que a gente gostava muito de tocar junto na época. Depois começamos a tocar Death Metal com o Victor, que acabou sendo o primeiro baterista da Nemphis Belle

Quando fui na garagem do Francalacci, vi posters do The Who e dos Rolling Stones. E antes vocês curtiam um metal. Como vocês chegaram nesse som atual? 

Quando conhecemos o Francalacci, ele só ouvia Beatles praticamente. As influências dele eram poucas. Então tudo que ele fazia era meio Beatles. Só que eu e o Zinho não gostávamos muito de Beatles – até depois começamos a gostar – mas quando você é metaleiro, você tem a mania de se aprofundar muito, ouvir muita coisa e tá sempre buscando coisa nova. Então eu e o Zinho seguimos essa tendência de ouvir um monte de coisa. E começamos a mostrar coisas pro Francalacci, como Led, Velvet Underground – que deu muita influência para umas músicas antigas – mas eu acho que a sonoridade de hoje surgiu dele ser fã dos Beatles por muito tempo; dele ter começado a namorar uma menina, Daniela, que era muito fã do Stones; um pouco de Bob Dylan (que os três gostam); e uma grande influência nesse segundo CD que vamos lançar é Led Zeppelin, uma banda que fui fã por muito tempo e sou até hoje – e o Régis também é muito fã. 





E essa ideia de separar o disco em Lado A/Lado B, foi uma influência disso que vocês curtiam? 

No rock, depois da década de 80 pra frente, a gente não gosta de praticamente nada. É pouca coisa que a gente gosta de verdade. Década de 70 tem coisas que nós gostamos, mas que acabam influindo no som não são tantas. Então o nosso som é mais voltado para a década de 60, que é o som que a gente gosta de ouvir, e nessa época era vinil, por isso na contra capa do CD eu pensei de ter Lado A e Lado B e as músicas foram divididas para dar 20 minutos para um lado e 20 minutos pro outro, pensando em como as músicas seriam divididas se fosse um disco de verdade. O lado A começa com “Silver Bracelet”, uma música que a gente acha legal de abrir, e encerrando tem “Good Bye”, que fechou nossos shows por muito tempo. E abrindo o Lado B é “It's Amazing”, que dá o título do disco. E fechando tem uma bem interessante, “Stand In Your Heart”, uma música totalmente gravada pelo Francalacci. A batera, baixo, tudo que tem nela foi gravada e composta por ele. É a música especial dele nesse disco e ele sempre disse que achava que soava como final de disco. 

E falando sobre essa “Stand In Your Heart”, como foi? Ele já falou “eu tenho uma música pronta e vou botar ela aqui”, como foi esse processo? 

Léo: Teve uma fase que a gente compunha muito junto. Só que aí entrou o Régis na bateria e ele não gosta muito de ensaiar e isso não deixou a gente compor tanto junto, como era antes. Aí teve uma época que a banda estava em crise, não conseguia mais compor músicas boas porque tava difícil de ensaiar. Mas o Francalacci começou a bolar uma carreira solo. Então muito das músicas desse primeiro CD são canções que ele pensou para a carreira solo dele. E “Stand in Your Heart” seria uma música a entrar no primeiro disco solo dele. E foi uma época em que ele se concretizou como compositor, começou a compor muita coisa boa. Então teve uma época que tinha um monte de música boa que era só a gente sentar e tocar. 

E nesse segundo CD: as músicas são mais o Francalacci compondo ou já voltou a banda toda junta? 


Ainda continuou o Francalacci. Nessa linguagem rock sessentista, vai ser sempre ele que vai puxar a frente da Nemphis Belle. Por mais que eu tenha algumas músicas na cabeça e o Zinho algumas na dele, não tem a quantidade que o Francalacci tem. Enquanto eu demoro seis meses para pensar numa música, ele faz seis músicas em uma semana. Ele é muito produtivo e criativo. O Zinho compõe também, mas para outro lado. Ou é mais pesado, que na época do metal ele era um ótimo compositor pro Death Metal - para a idade que ele tinha e o lugar que estávamos, ele era tipo um fenômeno pro Death Metal. Ou ele compõe em português. 

Na Nemphis Belle, o Francalacci domina essa linguagem do rock sessentista e consegue produzir bastante. Então por mais que a gente volte a compor junto, a cada 4 músicas no máximo que a gente vai chegar é duas nossa e duas dele. Por ele ter esse domínio da linguagem, essa facilidade e criatividade, e saber o que faz com a inspiração. Porque inspiração todo mundo tem, mas saber pegá-la, lapidar e transformar numa coisa tocável, são poucos que conseguem. E ele consegue. Ele se inspira num bar, e no outro dia chega com a música pronta. 

Tem alguma música desse CD que tem um significado diferente? 

Pra mim é a “It's Amazing”, que eu e o Francalacci fizemos a letra e eu fiz pra minha namorada, numa época que a gente não tava junto, eu tava meio mal... e pra mim representa coisas entre eu e ela. 




E como “It's Amazing” chegou a ser o nome do álbum? 

Foi sem querer. A gente queria que não tivesse nome o álbum. Eu mandei pro Túlio, um amigo meu que fez a capa, no Gmail uma música só e não deu pra anexar uma quantidade, porque elas estavam grandes e só cabia uma música. E mandei “It's Amazing”, ele gostou e colocou na capa. E isso virou um slogan. O show foi muito bom e a galera fala “It's Amazing”! A galera começou falar quase como um jargão publicitário. 

Já que nem todos da banda moram no mesmo lugar, como vocês ensaiam? 

Teoricamente não moramos todos no mesmo lugar mas todo final de semana estamos em Porto Ferreira. O Régis, de sábado, estuda em Campinas e faz aula de bateria avançada lá. Então a gente praticamente só ensaia nas férias. Eu por exemplo, quando está perto dos shows, fico tocando as músicas sozinho em casa como se fosse um ensaio. 

Eu sinto falta disso, eu ganho mais segurança pra tocar quando tá ensaiado. Mas já que não dá, fazer o que, tem que treinar sozinho e seguir em frente. 

Vocês vão tocar só música em inglês mesmo? É uma espécie de filosofia da banda ou um dia irão tocar em português também? 

Pode ser que mude no futuro, mas com o nome Nemphis Belle, com a nossa configuração atual, acho que português é uma coisa difícil da gente cantar, porque eu não acredito muito em rock em português. Rock é uma coisa que surgiu na Inglaterra, nos Estados Unidos, é uma coisa de lá, o inglês se encaixa na rítmica do rock, o que não acontece com as línguas latinas, acho muito complicado, por conjugação verbal, pelo tamanho das palavras, etc. 

Vamos supor... no português você fala “e-le faz”, no inglês é “he do”. As coisas saem muito mais fáceis. 

E não só pela rítmica do rock, mas pela identidade da banda também, vamos cantar sempre em inglês, se formos para fazer algo em português vai ser com outro nome, outra perspectiva. 

E como é a recepção do público de uma banda autoral em inglês? Já tocaram em algum lugar que a galera não os receberam muito bem? 

Em português é mais fácil de fazer sucesso, mas não seria muito pra gente. A gente poderia ganhar mais dinheiro, ser mais famosos, mas super envergonhado do que estivéssemos fazendo. Se eu tivesse que ser rico e famoso, tocar algo como Legião Urbana, prefiro ser pobre e desconhecido e tocar algo como Stones. É preferível você ser feliz com você mesmo do que pensar tanto na recepção da galera. Mas rock em inglês tem muita recepção, muito público e só a gente chegar com qualidade e na hora certa, com músicas boas, que esse público irá existir. Tem uma galera que ouve essas bandas novas ingleses como The Killers, Kings of Leon, Strokes... por que não ouvir Nemphis Belle? Gostaríamos de um dia ter como gravar na mesma qualidade que eles, ter a grana pra investir, e mesmo não tendo nem um 1% do recurso deles, a gente consegue se superar em muitos pontos e fazer um rock inglês legal. 

Vocês tocaram no Beco 206 em São Paulo e também na... - Léo lembra o outro lugar - ...Casa Fora do Eixo em São Paulo. Como que foi isso? 

Na Casa Fora do Eixo não foi um show tão legal, nós chegamos atrasados o que comprometeu um pouco a nossa apresentação. E foi meio esquisito o clima, porque estávamos muito nervosos por ser a primeira vez em São Paulo. Mas no Beco levamos técnicos de som, chegamos mais calmos... foi um público só pra ver a gente, távamos tocando e tinha uma galera cantando as músicas. Foi... ah, it's amazing! 


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