Fotos por Lucas Adriano
Texto por Pamela Morrison
Confesso. Antes
de mais nada preciso dizer que as lágrimas que insistiam em escorrer viam com a
força de uma agulhada. Deve ter sido a atuação, que fez com que os personagens
parecessem seres reais.
A peça foi uma adaptação do texto original de Nelson
Rodrigues que, de forma incontestável, foi o maior dramaturgo brasileiro. Sua
vida foi tão trágica e rocambolesca quanto sua obra.
Seus personagens são safados, incestuosos, adúlteros,
homossexuais, escandalosos. As tramas envolvem traições, cupidez e morte.
Nelson Rodrigues é assim, tudo o que viveu, ouviu, sentiu na sua infância está
em sua obra. Em partes tumultuada, sua vida foi rodeada de ganhos rápidos e
perdas marcantes.
O destaque da peça é um de seus pseudônimos em cena no
momento de não lucidez, Suzana Flag. E então com seu sotaque francês, segue a
pergunta chave de suas obras e vida:
- “Por que a bala era para seu pai, Nelson?”
“O jornal estampa a matéria, na primeira página, sobre
o desquite de Sylvia. Foi a fórmula encontrada para o diário não sair sem
assunto. Dois dias após o Natal entra na redação da Crítica procurando por Mário
Rodrigues. Não o encontrando, pede para falar com seu filho Roberto e dá-lhe um
tiro no estômago. “
Nelson viu e ouviu aquilo tudo. Com dezessete anos,
foi a primeira cena de violência brutal que presenciava. Seu irmão morreu dois
dias depois. Ninguém conseguirá penetrar no teatro de Nelson Rodrigues sem
entender a tragédia provocada pela morte de Roberto.
E o pai repetia: “ Aquela bala era para mim!”.
Até que foi demais para ele, e a morte o apanhou em
casa, matando-o alguns dias depois.
Nudez no palco. Aquilo que poderia ser polêmico,
seios, pernas, braços à mostra, foi tão natural, como assim deve ser. A mulher
nua é uma lembrança de Nelson ainda na infância, ao ver uma das filhas da
vizinha lavadeira tomando banho em uma bacia.
A Flor da Obsessão faleceu na manhã do dia 21 de
Dezembro de 1980, um domingo. No fim da tarde daquele dia ele faria treze
pontos na loteria esportiva, num “bolo” com seu irmão Augusto e alguns amigos
de “O Globo”. Dois meses depois, Elza, sua esposa e companheira, cumpriu o seu
pedido. E ainda em vida, gravou o seu nome ao lado do dele na lápide, sob a
inscrição: “ Unidos para além da vida e da morte. É só.”
É só, a vida termina assim, na morte, só isso. E a
apresentação também, por que não? Mas ainda há algo pra ser ouvido:
"A vida me tem ensinado que as pessoas são
amáveis, se eu sou amável; que as pessoas estão tristes, se eu estou triste;
que todos me querem, se eu os quero; que todos são maus, se eu os odeio; que há
faces sorridentes, se eu lhes sorrio; que há caras amargas, se estou amargo;
que o mundo está feliz, se eu estou feliz; que as pessoas são terríveis, se eu
sou terrível; que as pessoas são agradecidas, se eu sou agradecido. A vida é
como um espelho: Se sorrio, o espelho me devolve o sorriso. A atitude que tomo
frente à vida, é a mesma que a vida tomará diante de mim. Quem quer ser amado,
que ame", assim disse Gandhi. Ao som da voz do diretor homenageado, Paulo Neves,
que recitou ao final, encerrando a XI Mostra de Teatro Paulo Neves.
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